Quem chegava para comer, podia ficar com o pé na areia enquanto curtia a vista extraordinária - típico ambiente de Floripa. O Dunas Bar ficava na beiradinha de onde hoje é a clássica Avenida das Rendeiras. Não havia cardápio. Era só chegar e perguntar o que havia no menu do dia, montado conforme a disponibilidade dos pescados da região.
A grande atração era o caldo de camarão, uma criação de Andrino para agradar a clientela.
A sequência de camarão é um símbolo do auge da Lagoa.
Junto ao movimento do Dunas Bar, surgiram outros vários bares na região, que foi se consolidando como ponto turístico. Foi por causa desses pequenos comerciantes que a Lagoa da Conceição virou sinônimo de boemia. Assim como o caldo de camarão, outros pratos à base do crustáceo também faziam sucesso - e isso deu uma ideia aos cozinheiros locais:
“E que tal unir todas as iguarias em um só pedido, hein? Bora!”
Siri recheado (sim, o siri faz parte da sequência!), camarão ao alho e óleo, no vapor e à milanesa e, por fim, o caldo de camarão com peixe grelhado. Sem esquecer o pirão feito com o caldo.
"Esse foi o prato mais famoso da Ilha até os anos 2000. Até lá só se comia isso, sequência de camarão.
Até que descobriram o queijo… O queijo é o que descaracteriza nossa alimentação".
Quem diz isso é um dos três chefs de cozinha mais antigos em atuação em Florianópolis, Narbal de Souza Corrêa. Além de cozinheiro, Narbal é dono de restaurante e pescador submarino profissional.
Narbal também é um especialista na gastronomia manezinha, com livros publicados e participação em eventos internacionais onde divulga a cultura alimentar de Florianópolis. Por isso lamenta a chegada do queijo: considera um substituto fácil de muitos ingredientes e pratos típicos que foram perdendo lugar.
Um deles, a sequência de camarão, que já não é tão comum de encontrar nos bares da cidade.
"Muitos restaurantes tradicionais da Lagoa fecharam. Mas alguns ainda fazem esse prato, que é uma marca forte nossa. Tem um bar que é um verdadeiro guardião das receitas originais da Lagoa, até os garçons são tradicionais e sabem muito sobre a cultura local."
Narbal se refere a um famoso bar que tem a família reunida no nome e nas tradições conservadas através do tempo.
Mário César Teixeira é um dos donos atuais do Bar do Betinho do Deca da Lina. Ele é filho do seu Deca, que já faleceu. Já é a terceira geração do bar, que não abre mão de conservar não apenas as receitas mas a clientela local. Aqueles clientes dos quais já se sabe o nome, o jeito e o prato favorito. Coisa rara em regiões turísticas.
"Somos um dos poucos restaurantes da Lagoa que ainda pertencem aos nativos, e nossos clientes em grande parte são manezinhos da Ilha”, diz Mário César.
Os garçons são um tesouro à parte, formando uma grande família de pessoas dedicadas a esse propósito: não deixar a cultura da Lagoa morrer.
Muitos trabalharam em antigos restaurantes que já fecharam e, hoje, levam toda essa experiência para a nova geração de garçons. Incluindo a história da criação da sequência de camarão, um dos pratos mais pedidos no Bar do Betinho do Deca da Lina.
O chef Narbal acredita que a culinária da Ilha se fortalece com a existência de restaurantes como o Betinho do Deca da Lina.
No seu próprio restaurante, o Puro Oyster Bar, em Jurerê, também há um esforço para manter receitas típicas de Florianópolis, aliando a gastronomia contemporânea à tradicional. Para o ativista da culinária local, é preciso voltar os olhos cada vez mais para dentro do próprio território.