A cultura da benzedeira foi decretada Patrimônio Cultural de Florianópolis.
A cerimônia aconteceu em março desse ano, 2024, no aniversário da benzedeira mais velha em atividade, a dona Ondina, de 92 anos - uma verdadeira joia de saberes ancestrais.
Quase toda benzedeira aprende sobre as ervas com a mãe, a avó ou uma religião, geralmente de matriz africana. Com a Ana Cláudia Fraga Costa foi assim, ela teve todas essas inspirações e um dom que não sabe explicar de onde vem.
"Eu comecei a rezar com 8 anos de idade, fazia brincadeira de benzimento, fazia até fila pra benzer as crianças. Quando cheguei na adolescência, eu esqueci a oração.
Anos depois, uma tia trouxe um jovem com cobreiro para eu benzer. Por coincidência, eu tinha sonhado com a oração dias antes. Não tem explicação, não sei o que houve."
Desde esse episódio, Ana nunca mais parou de benzer.
"Eu tenho base católica, mas foi a Umbanda que me ensinou a manipular as ervas, a lidar com as questões da natureza.
Fui juntando os saberes ancestrais e também os saberes científicos para criar meu próprio ritual, desvinculado de religião. Foram 20 anos de estudo, um mergulho profundo dentro de mim."
Alecrim, para a saúde mental. Lavanda, para mães e bebês. Arruda, para limpeza energética. Dá para fazer incenso, infusão, banho de ervas…
Algumas delas são as mesmas usadas na culinária tradicional, que é outra forma de cuidado. A benzedeira Ana, por exemplo, adora mexer nas panelas e cozinhar para quem ama. O mesmo alecrim da reza é o que tempera o peixe, levando a magia até para o prato.