Texto e curadoria: Gustavo Stephan
“A fotografia sempre me espanta, com um espanto que dura e se renova, inesgotavelmente”, escreveu o filósofo francês Roland Barthes. Para um fotógrafo experiente, portanto, é sempre tempo de se renovar. E qual a melhor forma de fazer isso do que a troca com pessoas mais jovens. É isso que faço, desde outubro, dando aula num curso para adolescentes entre 15 e 18 anos na Sociedade Fluminense de Fotografia. Hoje, trabalhamos com 8 meninas, todas muito interessadas. No Dia Internacional da Mulher, quatro delas (Stephanie Dias Paiva, Brennda Evellyn, Maria Alice Dias e Lívia da Costa Maceó) e eu fomos a campo retratar quem estava nas ruas. Veja aqui o resultado desse trabalho, e como foi a experiência das alunas.
Stephanie Dias Paiva, de 17 anos, do Colégio Estadual Machado de Assis, quer ser fotógrafa profissional da Marinha. “No começo foi bastante difícil, não sabia com quem falava ou se iria levar um fora ou algo do tipo, mas aquela insegurança era uma boa sensação, não sei explicar como. Foi minha primeira vez fotografando outras pessoas, desconhecidos. Foi realmente uma experiência incrível e única. Percebi nas fotografadas a alegria de estar ali, se mobilizando no Dia Internacional da Mulher, lutando contra a desigualdade e o machismo, que cresce no nosso país. Nunca tinha feito isso. Agora que aprendi, não pretendo mais parar, agradeço aos ensinamentos de todos da Sociedade Fluminense de fotografia, principalmente ao meu professor Gustavo Stephan”.
Brennda Evellyn, de 15 anos, do Colégio Estadual Raul Vida, quer ser bombeira civil e fotógrafa. “Hoje eu tive uma grande experiência, pude ver e entender que é isso que eu quero, porque me senti feliz por está ali, tirando fotos, interagindo, vendo pessoas felizes, com sorrisos verdadeiros, gostando e se interessando; tirar essas fotos foi um aprendizado, pude ver como um fotógrafo age, foi superinteressante, eu amei. Sobre a luta das mulheres, eu acho uma atitude importante e corajosa, hoje a cada dia a falta de respeito e desigualdade só aumentam, devemos lutar para que isso acabe, e lutar pelo o nosso direitos”.
Maria Alice Dias, de 18 anos, do Colégio Estadual Machado de Assis, quer ser médica e fotógrafa. “Hoje eu tive um dia muito importante porque eu percebi que antes de tirar uma foto é preciso ver o ângulo certo, se a luz está certa, se está batendo na lente, e várias outras coisas. Foi uma experiência única de como fotografar as pessoas, gente que nem conhecemos, ver o sorriso delas foi muito bom. Como o professor disse, um não é sempre um sim. Adorei tirar fotos de mulheres, que ficaram incríveis, e acompanhar a luta delas, uma atitude corajosa, que combate a falta de respeito e a desigualdade. Temos que lutar por nossos direitos”.
Lívia da Costa Maceó, de 15 anos, do Colégio estadual Machado de Assis, quer trabalhar na Marinha. “Para mim, foi um dia de muito aprendizado, um dia em que pude ver o quanto nós mulheres somos guerreiras, o quanto sofremos e lutamos pelo nosso direito, percebi que cada dia é de luta para que possamos crescer e dizer: foi difícil, mas consegui. Aprendi também que sempre quando abordamos pessoas para tirar fotografias tem o não, tem o não sei, tem aquela coisa de estou com pressa, mas também tem aquelas que, sem problema algum, toparam na hora. Foi um dia inesquecível que irei guardar para sempre em meu coração”.