Ciganos Entre a tradição e a vontade de um futuro diferente...

Na periferia de Vila Real, Lagares é uma povoação quase exclusivamente composta por ciganos. Com o apoio da Junta de Freguesia de Lamares e Mouçós, têm água canalizada e eletricidade. Pode parecer insignificante mas é determinante para que possam aprofundar a sua inserção local e adotar uma atitude favorável ao que lhes pode fornecer melhores condições de vida.

Ainda na proximidade do Jubileu dos Ciganos e Nómadas que decorreu no Vaticano em 18 de outubro, a Agência ECCLESIA quis saber como vivem, que sonhos alimentam e o que mais desejam para as crianças da comunidade.

Os mais velhos recordam tempos mais austeros, em que os ciganos negociavam em cestos ou cavalos apenas em troco de bens alimentares. O dinheiro não era transacionado e o acesso à escola algo raro.

Serafim Anjos reconhece que hoje as crianças ciganas "têm mais mimo". isto como contraponto ao "tempo mais rigoroso" da sua juventude. Entende que "ser cigano é como ser de outro grupo qualquer.

"Que diferença há entre mim e você? Nenhuma, é só pelo nome cigano, o resto é igual".

José Anjos, recorda o tempo das barracas e dos cavalos. Faziam cestos que trocavam por comida. "O lavrador enchia a cesta de batatas e ficava com a sexta, nós trazíamos as batatas".

Reconhece que há pessoas que se assustam com esse nome. "Ciganos ui, pensam que matam, que fazem muita coisa mas não, é tudo igual, mas só o nome chega para meter medo". Ainda assim, José Anjos reconhece que as coisas já mudaram muito para melhor.

Jerónimo Júlio não esconde que a cultura se cigana se está a perder. É talvez um preço demasiado caro para romper com a pobreza e ascender na sociedade.

O seu sonho é que os ciganos sejam mais "civilizados" e que tenham acesso a melhores empregos. "É preciso que estudem, eu ainda fui à escola e fiz a quarta classe.

A comunidade conta com o apoio permanente da Junta de Freguesia de Lamares e Mouçós que é presidida por Hélder Afonso. O autarca é também o Diretor da Obra Nacional da Pastoral dos Ciganos e mantém aqui uma ligação que visa a promoção social desta etnia nem sempre aceite e compreendida.

Reconhece que é uma "dupla missão" que o coloca em contacto com a comunidades ciganas de todo o país. Em lagares, ou nas dioceses, Na sua relação com a comunidade cigana de Lagares, e no contacto com os ciganos presentes nas dioceses de norte a sul. Hélder Afonso refere que em Lagares todos os ciganos têm acesso a eletricidade e água, que reconhece "é uma forma muito concreta de lhes dar dignidade".

Uma vez inserida, a comunidade envolve-se mais. Exemplo disso a frequência da escola por parte das crianças e jovens ciganos.

O Centro Escolar Abade de Mouçós é a escola que acolhe os mais novos da comunidade de Lagares. A frequência escolar é hoje entendida pela comunidade cigana como essencial para conseguir um emprego e obter melhores condições de vida.

Ainda que o hábito de sair todos os dias para a escola e o desafio de aprender não seja do agrado de todos, há entre estas crianças quem sonhe vir a ser médica, cabeleireira ou até mesmo professor de matemática.

Entre a tradição que os define e o desafio de conquistar uma nova forma de estar na sociedade, os ciganos necessitam ainda mais do apoio e reconhecimento de todos e não de discursos simplistas geradores de desconfiança.