No Brasil, a paixão pelo futebol já vem de berço. Crescer no país de grandes craques como Pelé, Ronaldo e Neymar, é de grande influência para a vida de garotos e garotas que se interessam pelo futebol e que almejam seguir uma carreira no esporte. Um dos primeiros passos para seguir esse sonho é ingressar em escolinhas preparatórias, como é o caso da Geração Futuro.
A Geração Futuro é uma equipe amadora ligada a Federação Sergipana de Futebol. Fundada em 2012 com o objetivo de formar cidadãos e revelar atletas, é possível considerar a Geração um passo para que esse sonho se torne realidade. Ela tem uma parceria com o Lagarto Futebol Clube, onde representa o clube nas categorias de base.
É comum acompanhar o futebol por meio de grandes craques, que foram longe e se tornaram referências mundiais. No entanto, nem sempre essa é a realidade daqueles que tinham um sonho de atuar no esporte. Nessa fotorreportagem iremos contar a história de três garotos que atuaram na mesma escolinha preparatória em Lagarto/SE e tiveram diferentes rumos na vida.
José de Araújo Dórea Neto, o Netinho, começou a jogar ainda criança, com os irmãos. Entrou na geração com 8 anos de idade. Seu sonho ganhou intensidade quando participou pela primeira competição, aos 11 anos. Pela Geração, participou de diversas competições no estado e até fora dele. Sempre contou com o apoio do pai, que o acompanhava nos campeonatos:
"Quando tinha as competições, ele nunca me deixava ir sozinho, sempre ia comigo, passava uma semana dormindo no chão" - Netinho
Jogou no sub-17 do Lagarto, mas o destino reservava outras coisas para ele. Tendo passado por diversas peneiras como a do Sport Clube do Recife, mas sem permanência em nenhum deles, ele sabia que uma hora ou outra teria que abrir mão do seu sonho, por já estar mais velho e não ter uma estatura na média.
"O que me confortou foi ter a consciência de que eu e meu pai fizemos tudo que podíamos, que estava ao nosso alcance"
Ao ser questionado se sua decisão foi pela razão ou emoção, a resposta veio sem dúvida alguma:
"Totalmente pela razão, se eu seguisse meu coração eu não pararia de jogar nunca"
Mesmo sendo uma área bem ampla, existe uma parte que tem relação com o esporte, mas as razões para esse curso em especifico foi declarada:
"Entrei na fisioterapia com intuito de ir para fisioterapia esportiva, porém, outro motivo também foi a minha mãe, ela é cadeirante, então tem o acompanhamento do fisioterapeuta e eu sempre achei muito interessante"
Ruanderson Kaique Santos Mota atualmente cursa Engenharia Mecânica na Universidade Federal de Sergipe, mas sua paixão, o seu refúgio, é o futebol.
"Quando eu entro nas quatro linhas é como se o mundo fora perdesse o sentido e o foco voltasse para o jogo" - Kaique
Começou a jogar com 10 anos, e cerca de um ano e meio depois foi convidado a jogar na Geração, onde aprimorou seus conhecimentos sobre o esporte. Kaique estudava pelo período da manhã, mas treinava todos os dias pela tarde, mesmo com a Geração se encontrando apenas nas terças e quintas. Ele sempre fazia questão de dar algo a mais.
Enquanto Kaique estava na Geração, surgiu a oportunidade que poderia definir o seu futuro.
"Fui para o Sport Recife, fiquei lá três semanas na base sendo avaliado. Vi gente chegar e sair, não ser aprovado. Na minha cabeça eu já estava aprovado"
Segundo ele, foi nesse momento que ele percebeu que não daria certo. São muitas dificuldades como a distância dos pais, uma cidade completamente diferente, uma cultura nova, o oposto do que ele estava acostumado. Depois desse famoso balde de águia fria, ficou um ano e meio sem jogar. Porém, voltou para a Geração e um tempo depois, ingressou na Universidade Federal de Sergipe.
Dentro da UFS, buscou ingressar no time de futebol da mesma. A vida acadêmica não são flores, então ter um momento de lazer, como relata Kaique, é essencial.
"Aqui dentro eu tento manter, meu refúgio, participando do time de campo da UFS"
Em seu terceiro ano do ensino médio, ele não pensava em cursar uma faculdade. Porém na metade do ano começou a se dedicar. Kaique estudava pela manhã, trabalhava à tarde e fazia pré-vestibular à noite. Escolheu engenharia Mecânica, um curso totalmente oposto do futebol, foi uma decisão pensada em conjunto enquanto ainda estava no ensino médio.
Outro personagem é Gustavo Costa Azevedo, estudante do ensino médio. Seu contato com o esporte começou muito cedo, quando jogava nas ruas com os amigos apenas por diversão. Sempre apaixonado pelo futebol, tinha um exemplo em casa: seu pai. Aos sete anos de idade, começou a treinar com o mesmo, que na época era jogador. A partir desse momento, passou a levar o esporte não apenas como diversão, mas sim pensando em uma profissão.
Sua experiencia na Geração foi em 2021, onde teve seu primeiro contato com o esporte de forma profissional. Os treinos eram restritos, devido às complicações da covid-19. Pela Geração, conquistou vários títulos, como o Bicampeonato sub-17 da Copa Cidade Jardim, no município de Estância. Além da Geração, atuou defendendo a camisa do Esporte Clube Igrejinha, no Rio Grande do Sul, em 2023.
"O futebol envolve várias renúncias, ficar longe de casa, momentos difíceis, já passei por isso e esse é o preço que se paga para conquistar o sonho" - Gustavo
Tendo representado o time lagartense pela primeira vez em 2022, no Campeonato Sergipano sub-15, hoje continua suas atividades atuando pelo mesmo. Como não estão em período de competição para sua idade atual, se faz presente em treinos e amistosos.
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Outro nome que também passou pela Geração Futuro é o de Áthila Paixão. Ele saiu da escolinha em Lagarto para atuar pelo Flamengo no Rio de Janeiro. Arielson Bezerra, presidente e fundador do Geração Futuro, comentou que “talvez ele poderia ter sido o novo Diego Costa da cidade, o próximo que faria grande sucesso”, fazendo referência ao lagartense que teve passagens de destaque pelo futebol inglês e espanhol, e hoje atua no Grêmio (RS). Áthila foi uma das vítimas fatais do incêndio que atingiu parte do alojamento de jogadores do Flamengo, no Ninho do Urubu, Centro de Treinamento do clube carioca, em fevereiro de 2019. O presidente do Geração Futuro explicou que a estrela no escudo da escolinha é em homenagem ao atleta sergipano.
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Netinho, Kaique e Gustavo representam vários garotos e garotas que tem um sonho de serem jogadores de futebol e que deram o máximo para que isso acontecesse. Os três garotos tiveram diferentes destinos no futuro incerto que o esporte reservou para eles, mas não deixaram que a paixão pelo futebol desaparecesse de suas vidas.
Fotorreportagem realizada por Josielly Amaro e Eduarda Gomes para a disciplina de Fotojornalismo 2023.2.