as organizadas
As torcidas organizadas fazem parte do mundo do futebol desde os seus primórdios. No entanto, a sua história tem sido manchada pela violência, mas será que as torcidas organizadas são apenas o que a mídia conta?
De um lado, um forte dragão azul começou a vibrar nas veias dos torcedores do Confiança, de outro, um diabo vermelho encantou o coração colorado dos torcedores do Sergipe, e assim surge um clássico. Duas das maiores torcidas do estado tornaram-se rivais e, com isso, passaram a ser tratadas como sinônimo de violência, porém suas histórias não se resumem a essa marca. Nesta fotorreportagem, você vai conhecer melhor quem são as torcidas organizadas do derby sergipano, sua trajetória e seu amor, e entender o que é ser torcedor.
"Tudo na vida tem uma rivalidade"
Alberto Fernandes - Diretor Geral da Torcida Esquadrão Colorado
DA PAIXÃO À LOUCURA: TORCIDA TROVÃO AZUL
Simbolizada por um dragão, a torcida azulina é a voz do Confiança em campo. Originária do bairro Industrial em 1986, a Trovão Azul foi formada por operários. Seu nome surgiu após um comentário de um radialista local que afirmou: "Quando o Confiança entra em campo, parece um trovão", devido aos fogos de artifício que um grupo de amigos soltava no início dos jogos de seu time.
Esse trovão ecoa até os dias atuais, sendo considerado o décimo terceiro jogador do Confiança, aquele que não entra em campo, mas que vibra, canta, torce e impulsiona o time até a vitória. Carregando em sua essência o lema "Loucura e Paixão", essa torcida demonstra sua paixão com fervor. "Fui para Goiânia sozinho ver o Confiança. Isso para mim é loucura mesmo, por isso a paixão e a loucura", diz um torcedor do time.
"Onde estiver o Confiança, a Trovão está atrás"
“Hoje em dia eu só respiro Trovão.”
Em 2023, a Trovão esteve presente em todos os jogos do seu time, de janeiro a dezembro, demonstrando o amor pelo clube. Walber Freitas, atual presidente da Trovão, comenta sobre ser torcedor: “A gente caminha junto com o clube para qualquer lugar! Sem a Trovão, ninguém canta e ninguém grita. O Confiança não vive sem sua torcida hoje”.
Essas e outras demonstrações reafirmam o princípio do futebol e a fidelidade de um torcedor, que se arrisca para colocar seu time em primeiro lugar. Além disso, a Trovão se faz presente na vida de seus aliados em diversos aspectos, sendo a família de muitos torcedores.
ATITUDE E VIBRAÇÃO: TORCIDA ESQUADRÃO COLORADO
No ano de 1993, aproximadamente quatro amigos, em reunião, decidiram criar uma nova torcida do Club Sportivo Sergipe. Em meio a tantas outras torcidas da época, nasce o Esquadrão Colorado, aquela que viria a ser a mais popular do club. Mesmo com as dificuldades enfrentadas em 1996, sofrendo uma extinção temporária, a TEC persistiu como torcida organizada e teve sua reativação no ano de 1998. O grupo cativou com sua reestruturação e conquistou novos torcedores e atualmente é dividida em cinco comandos que demonstram sua presença no estado: Zona Sul, Zona Norte, Zona Oeste, Zona Interior e Comando Socorro.
Com 30 anos de existência, a Torcida Esquadrão Colorado tem como seu mascote oficial o diabo vermelho, denominado como "Atitude", que se faz presente até no lema da torcida: "Atitude e vibração". Na arquibancada, o Esquadrão clarifica seu lema e, com muito amor, a torcida vem movimentando os jogos e apoiando com garra o seu time. "O torcedor é o maior patrimônio do clube... sem nós, acho que a arquibancada vira um teatro, ela fica calada.", diz um forte torcedor do Club.
“A gente deixa de fazer quase tudo para acompanhar o Sergipe”
“ Se eu não fosse torcedor do Sergipe, eu não sei o que seria da minha vida”
Acompanhando o Club Sportivo Sergipe com a Esquadrão Colorado desde os 16 anos, Alberto Fernandes, Diretor Geral da Esquadrão conta com paixão sobre o time e o ser torcedor: “Significa muito, desde o começo que eu conheci o Sergipe tudo mudou em minha vida [...] ele significa quase tudo pra mim, a gente se envolve muito” e completa que a sensação de nostalgia graças ao amor pelo time não passa “parece que todo jogo é o primeiro jogo que eu fui, é a mesma ansiedade”.
Com uma dimensão maior que a conhecida, a Esquadrão atua trazendo forças e apoio ao Sergipe e unificando os torcedores em uma causa só: o amor pelo time, que proporciona diversas experiências ao longo da jornada. Apesar de ser subdividida em comandos, o coração colorado pulsa em um ritmo só.
Derby - Encontro desportivo entre equipes vizinhas ou rivais
Além das 4 linhas
Afinal, o futebol é apenas as quatro linhas? Longe disso, apenas a poucos metros do campo existem as arquibancadas, cheias, em uma só voz apoiando o seu clube na vitória ou na derrota.
As torcidas que inicialmente eram apenas objetos de apoio ao clube. Com o passar dos anos se uniram, formaram instituições próprias, com simbologias, presidentes, cargos e um imenso amor pelo seu clube. Porém, fora do campo, existe uma mancha de violência que persegue a grande maioria das torcidas organizadas.
Em meados de 1998, entre as cadeiras azuis e vermelhas do Bastistão, o derby sergipano se iniciava e o que deveria ser uma rivalidade saudável de dois grupos, tornou-se episódios de violência decretada. "No início era apenas uma rivalidade sadia, mas com o tempo e com o crescimento das torcidas veio a violência.", diz antigo torcedor da Trovão. Com isso, todo clássico é marcado por duas perspectivas diferentes: o dentro do campo e o fora. O que é controlável no estádio, se mostra incontrolável na cidade, amedrontando e afastando diversas pessoas dos times, futebol e torcida.
Ambas as torcidas repudiam esse comportamento ocasionado por uma minoria no todo e afirmam que a responsabilidade é grande, mas não é restrita só às organizações, ela deve ser compartilhada com setores de segurança das cidades, principalmente da capital sergipana. As medidas de enfrentamento à violência presente da rivalidade também não se provam eficazes. Em reuniões com o Ministério Público, os representantes das torcidas manifestam a necessidade de reconhecimento facial nos locais do jogo, além da vigilância na cidade inteira. Eles destacam que a punição dos materiais produzidos pelas mesmas não é eficaz. “A bateria não briga, a camisa não briga, quem briga são as pessoas. Tem que punir o CPF, não o CNPJ”, afirma diretoria da Trovão.
Além disso, essa marca tem desmotivado os demais torcedores dos times e apagado os feitos da torcidas, pois ambas promovem ações sociais não reconhecidas pelo público externo e constantemente demonstram apoio a comunidade interna e externa. As sedes, por exemplo, são espaços abertos, a segunda casa do torcedor, um ambiente de festas e alegria.
Nesse sentido, violência dos estádios envolvendo torcidas organizadas precisa de um grande processo de orientação e cuidado para que essa rivalidade seja apenas presente em campo, entre o futebol e os jogadores. Enquanto essa mancha existir, ambas as torcidas terminarão no 0 a 0.
Fotorreportagem por Larissa Prado, Maria Cândida e Yasmim Carvalho para a disciplina de Fotojornalismo no período 2023.2 da Universidade Federal de Sergipe.