Quando pensamos no Pós-impressionismo é quase automático associar o movimento com Van Gogh e Gauguin, porém poucos têm conhecimento desse relacionamento que eles tinham e, na verdade, quase ninguém sabe que um dos episódios mais famosos e polêmicos do Van Gogh envolveu Gauguin.
Em 1888, algum tempo antes de outubro daquele ano, Theo Van Gogh fez uma oferta a Gauguin, qual seja, ele pagaria 150 francos por mês se o artista concordasse em morar em Arles junto com seu irmão. Isso porque, em maio, Vincent Van Gogh havia criado o conceito da “Yellow House”, isto é, um lugar onde artistas poderiam viver e trabalhar juntos formando uma comunidade de artistas. Assim, durante a primavera do mesmo ano Gauguin foi para Arles e lá ficou por 63 dias.
Nesse tempo em que estiveram juntos, eles frequentavam o Cafè de La Gare (segundo Vincent era um café noturno:- “São bastante comuns, ficam abertos a noite toda. Assim, os rondadores noturnos podem encontrar refúgio quando não têm o suficiente para um quarto ou estão bêbados demais para conseguir um.”). A dona desse café era conhecida como Madame Ginoux, que foi pintada por ambos por diversas vezes em diferentes telas e ficou conhecida como “A Arlesiana”.
Um dos quadros que retratam a Madame Ginoux pertence ao MASP é conhecido por ser uma obra conjunta, pois segundo uma carta de Vincent para Gauguin, em que dizia que o artista fez um desenho em carvão pintado por Van Gogh quando não moravam mais juntos
Esse relacionamento gerou muitas mudanças que criaram a imagem que hoje associamos com Vincent Van Gogh. Ao observarmos as obras de Van Gogh é possível ver a influência que Gauguin exerceu sobre ele antes e depois deles morarem juntos.
Podemos observar que Van Gogh começou a carreira utilizando principalmente tons escuros e terrosos, depois 1888 adota cores mais vibrantes e pinceladas marcantes - traços comuns nas obras de Gauguin.
Podemos observar que Van Gogh começou a carreira utilizando principalmente tons escuros e terrosos, depois 1888 adota cores mais vibrantes e pinceladas marcantes - traços comuns nas obras de Gauguin.
A utilização de cores vivas, formas simples e linhas fortes se tornaram características conhecidas do pós-impressionismo, porém, são também características associadas com as obras de Van Gogh.
A parceria dos dois é estudada e celebrada até os tempos atuais em livros como Van Gogh and Gauguin: The Studio of the South, Douglas W. Druick et all, 2001 e, mais especificamente, The Yellow House, Martins Gayford 2008, relatando as experiências compartilhadas e as trocas de ideias entre os dois artistas, tendo por base as cartas escritas por Van Gogh, cujas narrativas descrevem as relações que marcaram o convívio desses consagrados artistas. Além dessas publicações, a realização das exposições: Van Gogh and Gauguin: The Studio of The South no The Art Institute of Chicago em 2002 e, Van Gogh and Gauguin: Reality and Imagination no Tokyo Metropolitan Art Museum em 2016, ao explorarem o período dessa convivência, confirmam o impacto dessa parceria em suas produções e o impacto de ambos no mundo da arte.
Dessa história, o que nos cabe é conhecer mais e usufruir a herança que essa parceria de 63 dias de convívio, no mundo das artes, nos permite usufruir, hoje e sempre
BIBLIOGRÁFIA
SCHJELDAHL, Pete. Different Strokes. The New Yorker, 28 jan. 2007. Disponível em:https://www.newyorker.com/magazine/2007/02/05/different-strokes-4. Acesso em: 20 set. 2023.
NISHIZAWA, Lyon. How Vincent Van Gogh Explored A Complicated Relationship With Paul Gauguin. Jetset Times, 24 set. 2021. Disponível em: https://jetsettimes.com/countries/netherlands/amsterdam/amsterdam-culturati/how-vincent-van-gogh-explored-a-complicated-relationship/. Acesso em: 20 set. 2023.
GAYFORD, Martin. The Yellow House: Van Gogh, Gauguin, and Nine Turbulent Weeks in Provence. Illustrated Edição. Mariner Books, 2008