CARAMBOLA – UMA REVISTA DE ARTE Sandra Mraz
"Carambola é o fruto da caramboleira, da família Oxalidaceae, originária da Ásia tropical. A fruta de sabor agridoce possui formato comprido, ligeiramente ovalado e com cinco gomos salientes. A cor varia do verde ao amarelo, dependendo do grau de maturação (Definição disponível no site Mundo Educação)".
De uma “Ásia tropical” para um país também entre trópicos migra uma fruta de sabor exótico, cor mutante e formato diferente. Inteira ou em fatias muito irreverentes... surpreende a todos os sentidos por sua forma, gosto e seu estilo sinótico. Se a fruta causa estranhamento pelo formato, sabor e cor como não a associar a domínios outros que, tão sutilmente, mas não ingenuamente, rompem a zona de conforto e impõem ponderações outras deflagrando o rompimento com valores enraizados e cristalizados?
E assim, na turma MA-2 do curso de Arte: História, Crítica e Curadoria- 2023, em meio a pluralidade e diferenças, entre diversidades de pensamentos e sentidos que identificam essa turma como um grupo forte e ativo, nasce um projeto de uma revista online.Com o objetivo de oferecer instrumentos teóricos e práticos para a elaboração de um projeto de publicação editorial online, a disciplina Ateliê de Crítica de Arte traz para a comunidade da PUC-SP a publicação: Carambola – uma revista de arte. Nas tramas que tecem o corpo da publicação, debates e discussões foram delineando as escolhas dos temas que ilustram e deixam marcas definindo a linha editorial da revista: resgatando histórias.
Matéria central- Coletivo Carambola¹
Em nossa matéria central, as ponderações do coletivo da turma levaram à elaboração do texto: “COREOGRAFIAS DO IMPOSSÍVEL” - DANÇANDO PELA 35ª BIENAL DE SÃO PAULO. Nele, a Turma MA-2 tece sua própria história expondo uma nova forma de olhar para as artes e para o mundo. Não é a partir do nada que a turma toda percebe na leitura da 35ª. Bienal, os enigmas e rupturas que desvendam na arte e através dela um olhar crítico para a realidade revelando novos caminhos e rompendo com visões cristalizadas. Esse olhar se constrói no percurso do processo de ensino-aprendizagem aliado às experiências do grupo que, a partir dos diálogos que se realizam no contexto dessa convivência configuram a pluralidade e diversidade de ver, sentir e ser de cada participante. Conforme alerta o próprio texto coletivo ... “as coreografias do impossível não são apenas expressões artísticas, mas estratégias e políticas do movimento”. Da mesma forma digo, essa turma não é apenas uma turma de estudantes de arte, ela é um conjunto brilhante em constante movimento para pensar e agir.
Amanda Marques resgata e atualiza a história de um conjunto musical que remonta aos experimentos de John Cage e Stockhausen, ao apresentar o grupo alemão KRAFTWERK, que revolucionou o campo da música eletrônica nos anos 1970 e cuja força e importância ainda chega aos nossos dias como experimento inovador e domínio avassalador que ainda hoje exerce influências nas várias tendências que vão do rock ao funk.
Abrindo espaço para questões que ainda hoje são consideradas controversas, Leia Costa recupera, numa produção do início do século passado, imagens do trabalho de J.C. Leyendecker, cujas peças publicitárias questionavam o ideal de masculinidade, expondo em seu artigo – J.C.Leyendecker: A Homoafetividade da Heteronormatividade, o modo como as imagens das campanhas do fotógrafo inspiravam temas que, junto a outros tantos, exploravam questões de gênero, raça e sexualidade, propondo a arte como resistência e subversão de normas e valores sociais pré-concebidos
Em Os 63 dias de Van Gogh e Gauguin, Rebeca Rodrigues nos guia pela história da parceria desses dois gênios da arte expondo quão significativos foram esses dias que marcaram esse período e o impacto desse convívio em suas produções e a importância desses artistas no mundo da arte.
Da utopia paisagística de Victor Meirelles à distopia de Gabi Paterna, Ana Neger nos agracia com seu texto enredando O tempo e as transformações na arte acadêmica. Um olhar que compara produções com uma diferença de 120 anos, expondo como a arte toma formas, estilos e poéticas diferentes para acompanhar um mundo cada vez mais frenético. Cabe à academia (e a nós também) acompanhar essas novas propostas de representação para não correr o risco de ficar obsoleta.
Viajar é uma experiência incrível, mas viajar através da arte é inefável. E transitando entre artes, Ana Valadares viajou no tempo e mergulhou nos jardins e luzes do impressionismo, com seu texto Entre Artes Caminho, descobrindo e resgatando em Georgina Albuquerque a ruptura estética e contextual em tempos de valores discriminadores.
Na matéria que revisita a História do Grafite, Carolina Puglisi, aponta para o fato de que essa forma de expressão não é exclusiva da contemporaneidade, pois remonta aos tempos do Império Romano onde podemos encontrar inúmeros exemplos. Distanciando-se da caracterização de crime e sendo elevado ao status de arte, essas apropriações do espaço citadino percorrem o mundo e, não menos importante, demonstram em conjunto com o picho ou pichação o quanto essas formas de expressão foram responsáveis pela proposição de uma nova estética urbana.
No contexto da crítica e da curadoria, Maria Clara e Cassandra entrevistam Allan Yzumizawa, um artista e curador jovem, trazendo um pouco dessa trajetória que se marca pela união de culturas, identidades e cujos processos criativos mesclam territórios, quebram barreiras e revelam a capacidade da arte de transcender e inspirar questionamentos, conforme afirmam as entrevistadoras.
Em Salto no Vazio, o conflito caracterizador da construção da memória é explorado por Karina Montenegro ao buscar na história da Ilha Reunião, uma região no oceano Índico e colonizada pelos franceses, a existência de um projeto que propõe a criação de um “museu do vazio”, isto é, um museu que descontrua a ideia de coleção de objetos com a concretude material detentora da memória colonizadora dominante e que resgata a expressão dos povos originários.
Podcast
No nosso primeiro episódio do Carambola-Podcast, Paula Santisteban nos traz um bate-papo descontraído, mas com muita seriedade, acercando-se das questões que envolvem a gestão do setor educativo em instituições museológicas e, também, as dificuldades que enfrenta o sistema educacional brasileiro e, dentro dele, os sérios problemas envolvendo o Ensino de Artes nos diferentes níveis de escolaridade em todo o país. Nesse podcast são nossos super convidados Mirela Estelles, mediadora cultural, coordenadora do educativo do MAM em São Paulo desde 2009 e, também, Claudinei Roberto Silva professor, artista visual, foi coordenador do educativo do Museu Afro Brasil em SP, e como curador realizou e tem realizado diversas exposições no contexto nacional.
É por isso que convido todas, todos e todes a fazerem parte desta história que está apenas iniciando: Carambola – uma revista de arte – nasce aqui e, com certeza, vai marcar o seu tempo como antena que quer olhar o mundo como linguagem, ler o passado, relacionar com o presente para pensar e atuar no futuro dentro do contexto dos estudos de Arte, Crítica e Curadoria.
Profa. Dra. Sandra Rosa Mraz
Disciplina: Ateliê de Crítica de Arte-2023
Curso de Arte: História, Crítica e Curadoria – PUC-SP