Associações Locais de cultura no concelho de Torres Novas Escolas à Descoberta de Abril - 50 anos

Respondendo ao convite que nos foi endereçado, escolhemos abordar as associações ou coletividades de cultura que existiam em Torres Novas antes do 25 de Abril. O seu número era bastante significativo e a diversidade de interesses que desenvolviam contribuiu bastante para que, apesar da censura e do obscurantismo, a vila de então apresentasse uma dinâmica expressiva de atividade cultural, corajosamente mantida maioritariamente por jovens rapazes e raparigas que, apesar de todos os condicionalismos, se dedicaram com entusiasmo e mérito a oferecer aos seus conterrâneos a cultura que o Estado lhes negava. Ler+

Cineclube de Torres Novas
Reflexões dos alunos

A realização deste trabalho, com a ajuda do senhor José Alves Pereira, permitiu o aprofundamento dos conhecimentos, não só sobre a política cultural do regime salazarista, como também sobre o modo de vida da época e como este era afetado durante o grande período repressor. O que mais de impressionou foi a vasta diversidade de atividades praticadas pelo Cineclube e a ausência de qualquer problema com a polícia política, devido à melhor adaptação possível às regras e à cautelosa seleção dos membros da direção que optava por pessoas socialmente "pacíficas" e "neutras". LER+

Rancho "Os Camponeses" de Riachos

Resultante de uma marcha de carnaval que alguns jovens riachenses tiveram a ideia de trazerem à rua em 1958 e na realidade pretendia apresentar umas “danças de fantasia” em que participavam “rapazes e raparigas a dançar”, o Rancho Folclórico “os Camponeses de Riachos veio a tornar-se, e em pouco tempo, um grupo de referência a nível nacional e a receber convites para inúmeras deslocações ao estrangeiro. Ler+

Mais elementos/momentos registados na sede de "Os camponeses de Riachos"

Reflexões dos alunos

O papel da mulher no rancho era essencialmente de subordinação, refletindo a visão conservadora da sociedade portuguesa da época. Muitas vezes quando estas começam a namorar, acabavam por sair do rancho uma vez que não seria visto de forma positiva nem permitido dançar com um par que não correspondesse ao seu marido.

De uma forma geral, antes do 25 de abril o rancho para além de servir de propaganda do regime, era também utilizado como uma forma de educação e controle social, ensinando aos jovens valores patrióticos e morais. LER +

Bibliografia:

  • Joaquim Santana, As Minhas Memórias, Rancho Folclórico "os Camponeses" de Riachos 1958-2008, Edição Município de Torres Novas, 2008
  • Memórias Fotográficas do Rancho Folclórico "Os Camponeses" de Riachos 1958-2019 de Rancho Folclórico "Os Camponeses" de Riachos. Edição de Autor, 2020
Choral Phydellius

Surgido nos finais dos anos 50, o Choral Phydellius foi uma das associações locais que teve maior projeção a nível local, nacional e internacional. Iniciado como um coro de rapazes para abrilhantar cerimónias litúrgicas, o coro veio a tornar-se misto, cresceu e, como em todos os crescimentos, sofreu algumas vicissitudes internas relacionadas com a sua afirmação e o seu desenvolvimento artístico as quais, porém, nunca interromperam a sua atividade. LER +

Documentos: O "caso" Os homens que vão para a guerra" - doc 1, doc 2 (CRUZ, Antonino; ROSA, Vitoriano (1974) – As mentiras de Marcello Caetano (Resposta a um falso depoimento). Lisboa: Agência Portuguesa de Revistas.), áudio (gravação cedida por Carlos Nicolau)

Reflexões dos alunos

Lembro-me de ler no livro do Choral Phydellius, o capítulo da Guerra do Ultramar, onde houve uma ausência por parte de alguns homens que, infelizmente, tiveram que partir para a guerra nas antigas colónias. Outro tema abordado foi a censura que também chegou ao Choral. O coro não podia cantar certas músicas conhecidas como “músicas heróicas”, músicas já proibidas desde 1948, desde o MUD e das eleições. Depois de se dar o 25 de abril de 1974 é que o reportório de músicas foi modificado, e havia várias músicas novas. (…) LER+

Sociedade Filarmónica União Pedroguense
Reflexões dos alunos

Eu pessoalmente achei este tema que nos foi proposto o mais interessante de todos visto que consegui ouvir mais detalhadamente sobre a importância da música nas pessoas, especialmente numa sociedade reprimida, apesar da qualidade dos instrumentos ser reduzida, os edifícios utilizados estarem num estado decadente e entre outras grandes dificuldades. O espírito nunca esmoreceu e o povo continuou firme nas suas crenças, expressando- se através de melodias. Melodias estas que foram chave no crescimento de muitas pessoas, visto que aprenderam a tocar instrumentos gratuitamente, criaram laços que duraram para o resto da vida e puderam ir a locais que nunca sonhariam ir, uma vez que a banda deslocava -se a outras terras para realizar concertos. Achei particularmente interessante a entrevista que fizemos, visto que tivemos a oportunidade de ouvir a experiência de vida de alguém que viveu por toda esta fase lamentável de Portugal e conseguimos ouvir curiosidades / histórias curiosas sobre a realidade da altura. LER +

contos e Pontos

O grupo de senhoras que assim se designa, deve-se à iniciativa da Dra. Natália Rodrigues, médica aposentada que há muitos anos veio viver para a aldeia de Mata. À partida, parecia não ter enquadramento no âmbito deste trabalho. No entanto, depois de termos feito contactos iniciais para encontrar quem nos falasse sobre a vida da centenária Sociedade Filarmónica União Matense, tivemos conhecimento deste grupo constituído por senhoras da referida aldeia e soubemos que as suas histórias de vida continham um valor e um significado que não poderíamos deixar de considerar. Estas senhoras, que tiveram a amabilidade de nos receber e de nos expor as suas memórias, deram-nos a conhecer histórias da emigração e das vivências de juventude na sua aldeia. Muitas destas memórias não são memórias felizes e causaram forte impressão nos alunos que as recolheram. Cremos mesmo que talvez tenha sido o grupo de entrevistados que mais sensibilizou, de um modo pessoal, os que escutaram e que mais imediatamente os relacionou com a História de antes do 25 de Abril. O grupo é “apenas” gente que se encontra, que se acompanha, que conta histórias e comenta as vivências do quotidiano. Mas também é um grupo que vai ao encontro de outros e que está presente na vida da terra.

(Nota: por razões de ordem técnica, as imagens não abrangem a totalidade dos entrevistados)

“Contos e Pontos” é um grupo de senhoras que abriram as portas das suas casas e abriram as portas e janelas de si mesmas porque, por vezes, se descobrem a fazer o que nunca haviam imaginado, porque a força de um grupo as torna mais livres. E isto é o 25 de abril.

Reflexões dos alunos

"Por fim, a curiosidade que mais me marcou, uma senhora que permaneceu 40 anos em solo francês, passou a fronteira portuguesa a salto com duas crianças, uma mais nova ao seu colo e a outra pouco mais velha de mãos dadas. Isto tudo com a agravante de estar acompanhada por homens e nenhum ter tido a dignidade de ajudar esta mulher. A meu ver é uma história digna de um filme e de uma mulher que é determinada e acima de tudo lutadora." LER +

Making Off